quinta-feira, 19 de abril de 2012

Limites: três dimensões educacionais


Trechos do livro “Limites: três dimensões educacionais” de Yves de La Taille – Professor do Instituto de Psicologia da USP, na cadeira de Psicologia do Desenvolvimento Moral

“Limite” é uma palavra que tem voltado à tona ultimamente. É empregada com frequência, em geral de forma queixosa: “Essas crianças não têm limites!”. (...) Mas do que estamos realmente falando, quando nos referimos a limites, à sua falta, à necessidade de sua imposição? (...) se é verdade que a falta de limites verifica-se em muitas pessoas (não apenas nos jovens), é também verdade que o excesso deles sufoca a maioria. (...) “Limite” remete à ideia de fronteira, de linha que separa territórios. Se existe um limite, é porque há pelo menos dois continentes, concretos ou abstratos, separados por essa fronteira. (...) o limite se referiria apenas a um horizonte instransponível. Porém, a ideia de fronteira remete-nos também à ação de transpor, de ir além. Aquilo que hoje me limita pode ser ultrapassado amanhã. (...) Portanto, “limite” não deve ser pensado apenas como ponto extremo, como fim, como limitação. Não há dúvida de que esse é um dos significados, mas apenas um, apenas um lado da fronteira. “Limite” significa também aquele pode ou deve ser transposto. Toda fronteira, todo limite separa dois lados. O problema reside em saber se o limite é um convite a passar para o outro lado ou, pelo contrário, uma ordem de permanecer de um lado só.
(...)
“Limite” pode significar aquilo que deve ser transposto, seja para atingir a maturidade seja para caminhar em direção à excelência em alguns campos de atuação e conduta.
“Limite” pode significar aquilo que deve ser respeitado, não transposto, seja para viver bem, seja para deixar os outros viverem.
“Limite” pode também remeter à fronteira da intimidade, ou seja, ao controle do acesso dos outros à nossa pessoa.
Nos três casos, uma ação educativa é necessária e, como podemos verificar, se há hoje uma “crise”, ela tanto pode ser interpretada como “falta de limites” quanto como “excesso deles”. 

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