quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Conversando sobre Irmãos


PENSANDO EM TER MAIS UM FILHO? 

- A decisão de ter mais filhos deve ser feita em função do desejo e disponibilidade dos pais e não pensando em uma companhia para o filho mais velho ou considerando a vontade deste; 

- A decisão deve ser tomada em conjunto - pelo casal e de maneira consciente, pois quanto maior o número de membros, mais atividades e relações familiares acontecem: será necessário dividir responsabilidades, cuidados e tarefas domésticas; 

- Não convém perguntar se o primogênito quer um irmão ou não, porque a escolha não cabe a ele, nem se prefere irmão ou irmã; 

- Contar da gravidez o quanto antes, assim que confirmada, para que a criança não fique sabendo por terceiros (ou, ainda, sinta mudanças na casa, na família ou na mãe sem entender o que está acontecendo); 

- Se a criança demonstrar por conta própria preferência por irmão ou irmã cabe explicar que nem os pais podem escolher; 

- Não criar falsas expectativas como dizer que o irmão virá para brincar e fazer companhia ao mais velho (quando o bebê nasce é incapaz de fazer isto o que pode causar uma frustração desnecessária ao primogênito contrariando a confiança depositada nas explicações dos pais); 

- Convém se organizar financeiramente, pois costumam ocorrer alterações no bem estar econômico da família. 

Qual o momento adequado e a diferença de idade ideal para “encomendar” mais um? 

Tente prever a disponibilidade do casal em termos de energias e tolerância, pois o bom relacionamento entre os filhos depende mais disto do que da diferença de idade entre eles. Para conseguir prever isto, convém saber que: 

- Crianças de até um ano e meio mais ou menos acabam tendo necessidades muito parecidas com as do bebê e é preciso ter bastante disposição para atender o que seriam “gêmeos com idades diferentes”. Se os pais ficarem inseguros quanto a isso, esperem ter certeza de que já dedicaram o suficiente ao primeiro filho a ponto de ele adquirir certa independência; 

- No segundo ano de vida a criança passa por uma fase de enfrentamentos a fim de conhecer suas vontades e possibilidades. São tempos mais desafiadores para os pais administrarem os limites sem desconsiderar a necessidade de autonomia da criança. Se os pais entenderem que são capazes de administrar essa fase juntamente com as manifestações de ciúmes em relação à chegada de um novo membro, não há motivos para receios; 

- Por volta de 4 ou 5 anos a criança já tem mais recursos cognitivos, de autonomia e de linguagem que permitem compreender melhor as explicações dos pais e participar positivamente dos cuidados de um irmão. 

A CHEGADA DE UM NOVO IRMÃO 

Na “preparação” - durante a gravidez: 

- Explicações ao primogênito: não antecipar questões, procurar usar falas simples e curtas quando ele é pequeno (até 3/4 anos mais ou menos), ser claro (não usar analogias). O excesso de informações confunde e pode deixar a criança ansiosa, pois são 9 meses de espera sendo anunciada constantemente e a criança pode não ter noção de tempo. Encarar interrogações com naturalidade sem esconder ou enganar; 

- Evitar ficar falando muito só sobre a gravidez com outras pessoas na frente do primogênito. Quando isso acontecer, procurar envolver o mais velho na conversa – pedir ajuda para contar “a história” sobre a qual está sendo falada; 

- Usar um livro para contar histórias de bebê: da gravidez ao nascimento (com enfoque para o primogênito) e mostrar fotos ou o álbum dele para ilustrar o momento conforme surgirem os interesses. A experiência da própria criança e a maneira como ela pensa o que vivencia são mais significativas do que as explicações de um adulto. Dicas de livros: “A criança mais importante do mundo” de Renata Pettengil, Larousse Junior; “E agora? Vão tomar o meu lugar?” e “Para com isso, pirralho!” de Bel Linares e Alcy, Salamandra; “Vou ganhar um irmãozinho” de Kes Gray e Sarah Nay, Panda Books. 

- Solicitar participação nos preparativos se houver interesse: arrumar as roupinhas/guardá-las, organizar a disposição dos móveis no quarto, ajudar a escolher coisas que estão sendo compradas na presença dele; 

- Incentivar a divisão de cuidados e a convivência da criança com outros adultos (pai, avós, familiares, amigos etc.). Se esperar o bebê nascer para que isto seja feito, a criança responsabiliza diretamente a diminuição de atenção e a divisão de cuidados ao bebê. 

Durante a internação: 

- Se possível, permitir que a criança escolha onde e com quem quer ficar (em casa com o pai, em alguma avó, amigos, etc.); 

- Incentivar que quem estiver cuidando do mais velho proporcione atividades interessantes/envolventes (como passeios) que ocupem o tempo em que há o afastamento dele com a mãe; 

- Ao despedir na saída para a maternidade (se ocorrer): procurar passar tranquilidade sem enfocar o acontecimento para não aumentar a ansiedade, explicar como vão ser as atividades da criança e se despedir como de costume, naturalmente; 

- Programar visita no hospital se os pais desejarem que ela aconteça: que seja num momento em que a mãe possa estar preparada/arrumada para receber o mais velho carinhosamente, em que não haja cuidados médicos que possam impressionar (soro/medicação intravenosa, injeção, hora do banho etc.); 

- Algumas famílias oferecem um presente ao mais velho “dado pelo bebê”: acreditamos que isto pode dar a entender que o presente substituirá o afeto e atenção diminuídos a partir de agora, entretanto, por outro lado, se for dissociado o valor material do presente de maneira que este envolva o contexto do evento (ex: um bebê, um(a) boneco(a), um carrinho de bebê etc.) crianças pequenas podem se beneficiar de uma brincadeira simbólica que as ajude a representar e elaborar a experiência pela qual estão passando; 

- Falar ao telefone com a mãe? Algumas crianças se beneficiam desse contato pela aproximação com a mãe, para outras ele pode ser penoso (ou para a mãe também). Se houver vontade de alguma das partes: testar e observar/sentir. 

Na volta para casa: 

- Apresentar os irmãos entre si, incentivar contato: “Quer fazer um carinho? Quer segurá-lo um pouco no colo?”. Usar a fala para os 2 interlocutores: “Olha A quem chegou, seu irmão! Olha B quem chegou, seu irmão, quer fazer um carinho nele?”; 

- Organizar “a casa” antes que o primogênito chegue: arrumar os remédios da mãe e os horários, as refeições, os espaços para que não aconteça “confusão ou corre-corre de necessidades” atrapalhando esse momento de primeiros contatos entre os irmãos ou da mãe com o primogênito (após alguns dias de afastamento); 

- Depois de feito o contato inicial entre irmãos, favorecer atenção um pouco mais direcionada ao mais velho nos primeiros minutos, deixar o bebê no colo de outro adulto ou colocá-lo um pouco no berço/carrinho. 

Amamentação: 

- Precisa de tranquilidade? Peça que o primogênito mostre algo a alguém, ou peça a alguém que o ocupe com alguma atividade em outro cômodo da casa (evitar o uso de frases em que a criança possa se sentir rejeitada ou excluída); 

- E se o mais velho pedir para mamar também? A mãe pode contar sobre a vez dele: quando ele mamou, como foi, mostrar alguma foto, quando e como ele parou de mamar (se for favorável à situação) e explicar que agora é a vez do bebê. Se ela achar que fica à vontade e lidaria melhor com a opção de deixar que ele experimente do que com a conversa, pode fazê-lo, enfatizando o caráter temporário, de experimentação. 

De volta à rotina: 

- Convidar (sem exigir) a participação e ajuda do mais velho nos cuidados com o bebê: pegar as fraldas, segurar uma pomada, ajudar a escolher roupas, estimular que converse com o bebê durante a troca, ajudar a empurrar o carrinho etc.; 

- Como reagir com os presentes das visitas? Agir naturalmente, não enfocar e nem esconder o presente dado ao bebê mesmo quando a visita não presenteia o mais velho: se ele estiver por perto, convidá-lo para ver, solicitar ajuda para abrir o pacote e para guardar o presente; 

- Como reagir diante das visitas ou de comentários de desconhecidos sobre o bebê em locais públicos? Com criatividade e jogo de cintura falar algo com ou sobre o mais velho: incentivar que ele participe um pouco das conversas, conte ou mostre algo do bebê e/ou de si mesmo; 

- Contar com apoios: divisão de tarefas entre os pais (o pai tem papel fundamental de suprir as diferenças de atenção com os filhos e de colaborar nas tarefas domésticas, promovendo o bem estar da família), colaboração da escola e de avós, familiares, assistentes, amigos e até de médicos ou especialistas. 

Comportamentos esperados do mais velho durante a gestação do irmão ou até cerca de 2 anos após o nascimento (mais fortes logo após o nascimento ou quando o caçula apresentar conquistas): 

Crises de raiva/ciúmes/birras/frustrações (choros intensos, enfrentamento agressivo com os pais etc.), travessuras, aumento na dependência (em tarefas que antes fazia com autonomia ou no emocional – resistência à separação com a mãe, pedido de colo), insegurança, comportamentos imitativos do bebê (fala infantilizada, pedido de colo, regressão nos hábitos de higiene - volta a fazer xixi na cama, usar chupeta), problemas com o sono, pesadelos, aumento de introversão, criação de amigo imaginário. 

Podem ocorrer alterações em outros âmbitos familiares também, como, por exemplo, no bem estar econômico da família e no estilo disciplinar dos pais – por mudança de valores, pelo cansaço ou pela (in)compreensão dos comportamentos dos filhos. 

Como lidar com essas alterações de comportamento? 

O ciúme indica que há ligação afetiva, é natural, é uma maneira de protestar contra a falta de atenção sentida. E essa divisão de atenção acontecerá daqui para frente – será necessário que a criança se adapte, mas ela pode precisar de um tempo para isso. É importante ser paciente em certa medida: permitir as regressões de forma compreensiva e a expressão dos sentimentos direcionando para que ela seja feita verbal e não fisicamente. Mas deve-se estabelecer limites: agressões não podem ser permitidas quando o bebê é incapaz de se defender: é necessário repreender e acolher, por exemplo: se o mais velho dá um apertão no bebê, você pode dizer com firmeza: “não, machucar o irmão não pode!” e contenha-o fisicamente (sem abuso de força), ou seja, não tire o bebê de perto, segure e fique próximo dos dois e depois de dado o recado, procure mudar o foco da conversa. 

Quando a agressividade é voltada para os pais: evite permanecer estacionado em seus sentimentos de culpa e de rejeição. É importante demonstrar seu amor, dar atenção e apoio e procurar compreender suas reações. Entretanto, dependendo da idade da criança (especialmente entre 2 e 4 anos) o enfrentamento é característico também da fase de seu desenvolvimento (e não apenas do ciúme): quando os pais ficam incomodados com as atitudes dos filhos e percebem o pedido de contenção é importante que demonstrem as fronteiras: “eu não gostei disto que você fez” (nunca diga “não estou gostando de você fazendo isso”, "você está um chato!" ou “que feio! você está feio fazendo isso”). 

A compreensão que indicamos aqui diante dos comportamentos de ciúme, opositores ou regressivos é baseada no respeito ao momento da criança, no favorecimento da expressão de suas emoções (para acolhimento e direcionamento) e na observação de que, geralmente quando a criança percebe que pode ser aceita fazendo o mesmo que o bebê, retorna ao seu lugar. Entretanto, isso não significa que essas manifestações devem ser incentivadas desta maneira – permitir que a criança se expresse não implica nos pais voltarem a falar de maneira infantilizada com ela, por exemplo. 

RELACIONAMENTO ENTRE IRMÃOS 
vale desde o início e para sempre, mas, especialmente, nos primeiros 2 anos de vida do caçula: 

- Programar momentos exclusivos, a sós, de relacionamento: pai com a mãe, do pai com cada filho, da mãe com cada filho (anunciar antecipadamente esses horários de encontro); 

- Individualizar cada filho: cada pessoa é única, não existe ninguém igual no mundo. É impossível tratar os filhos igualmente. As relações são diferentes e as formas de amor também – não se deve alimentar sentimentos de culpa pelos sentimentos diferentes que nutre por cada um dos filhos – assim eles também não o farão. Procurar valorizar cada um em suas características. Considerar também a diferença de idade: estabelecer rotinas conforme a necessidade de cada um. Evitar comparações: se for preciso, falar abertamente das diferenças sem emitir juízos de valor - encará-las abertamente pode beneficiar as crianças; 

- Não depreciar diferenças de sexo (menino x menina, exemplos: “A Maria está uma delícia, menina é muito mais gostoso que menino, muito mais tranquila, carinhosa, apegada à gente, já o João sempre foi muito agitado, um bagunceiro, moleque é peste! Nem liga pra gente.” ou: “Ai Maria, para de frescura, não aguento mais você choramingando!... Homem é muito mais fácil, olha o João - não tem esse monte de “nhén-nhén-nhém”); 

- Evitar interferir no relacionamento entre os irmãos: eles devem construir a relação entre eles em função de seus contatos e interesses e não em função das expectativas dos pais. Diante de brigas deixe que resolvam sozinhos na medida do possível: “não sei quem está certo ou errado – vocês que descubram” e saia de cena. Caso contrário, um sempre acreditará que foi lesado na interferência dos pais e isso pode favorecer a rivalidade com o irmão. Crianças que evitam entrar em conflito com os irmãos para poupar os pais de desgosto tendem a não formar uma ligação afetiva próxima quando adultos. 



O momento é composto por uma combinação de fatores e de experiências. Nenhuma dificuldade ou mesmo conquista é exclusiva de algo ou de alguém. Nem sempre é possível considerar todos esses fatores, algumas vezes tudo é surpresa. Vale lembrar que independente da experiência e das dificuldades que possam vir a ser encontradas, havendo amor, cuidado e limites todos sairão bem, mais cedo ou mais tarde. 



“Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal.” 

”Os métodos são as verdadeiras riquezas.” 

(Friedrich Nietzsche) 

Bibliografia: 

BRAZELTON, T. Berry. Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 

CAMACHO, Suzy. Guia Prático dos pais. São Paulo: Paulinas, 2007. 

CAPELATTO, Ivan. Diálogos sobre afetividade. Campinas: Papirus, 2007. 

GESELL, Arnold. A criança dos 0 aos 5 anos. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 

LOBO, Luiz. Escola de Pais: para que seu filho cresça feliz. Rio de Janeiro: Editora Lacerda, 1997. 

PEREIRA, Caroline Rubin Rossato; PICCININI, Cesar Augusto. O impacto da gestação do segundo filho na dinâmica familiar. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 24, n. 3, Sept. 2007 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2007000300010&lng=en&nrm=iso>. Acessos em  10  Abril.  2012.  http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2007000300010.


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