terça-feira, 30 de abril de 2013

Reflexões sobre o "trabalho"


Venho pensando algumas questões sobre o "trabalho" e acredito que o feriado de 1º de maio me convida a compartilhá-las.

Retomando brevemente o motivo do feriado em tal data, resgato que foi inspirado numa manifestação de trabalhadores dos EUA pela redução da jornada de trabalho. A data foi tida como um dia reservado às lutas e reivindicações dos trabalhadores. No Brasil, Vargas  a transformou num dia de celebração aos trabalhadores, data em que anunciava alguns benefícios, como o ajuste de salários.

Acredito que não convém aqui, discutir a fundo questões capitalistas que envolvem o trabalho em nossa sociedade e nem a convenção da data como feriado, por exemplo. Mas o que venho pensando e quero compartilhar é sobre os valores que transmitimos às nossas crianças sobre o trabalho. De fato, dependemos fortemente dos recursos financeiros que ele nos traz. Mas ouço muitas falas de adultos direcionadas às crianças que focam apenas a obrigatoriedade do trabalho e seu retorno financeiro: "você TEM que ir pra escola hoje porque a mamãe TEM que trabalhar", "não posso ficar com você porque tenho que trabalhar pra ganhar 'dindin' para comprar e pagar suas coisas". Se eu fosse criança, acho que iria me revoltar: "não quero mais roupas nem brinquedos, nem comida nem escola, mas que vida de prazeres invertidos é essa?".

Por que temos que trabalhar? Porque trabalhamos com tal coisa e não com outra? Só pelas oportunidades ou falta delas? Porque dedicamos tanto tempo da nossa vida ao trabalho? Se fosse só pelos motivos que usamos para justificar nossos compromissos laborais às crianças, imagino que nossa sociedade já teria se transformado faz tempo, ou nem teria se tornado capitalista... As limitações da vida não nos impedem de tomar decisões e fazer escolhas, apenas restringem as opções.

O trabalho pode fazer parte de uma realização pessoal de vida. Não é apenas PRECISO trabalhar, mas muitas pessoas GOSTAM de trabalhar, e independente de precisarem ou não, QUEREM trabalhar. Admiro quem banca fazer da vida aquilo que gosta, encarando os desafios e imposições dela. Se podemos transmitir um significado ao trabalho para nossas crianças, espero que ele seja, no mínimo, positivo.

Quando levo meus filhos para a escola, digo: "Que delícia! Hoje é dia de escola!". Se, por ventura, eles 'protestarem' digo: "eu QUERO trabalhar e não posso ficar com vocês agora.  Agora é hora de trabalhar e de ir para a escola, à noite (ou mais tarde) QUERO brincar /ficar com vocês!"

Meu trabalho às vezes é difícil e chato - desafiador, mas eu gosto muito dele. Imagino que a escola seja assim para eles também... Não poderei escolher o trabalho dos meus filhos e provavelmente nem dar a eles a opção de não trabalhar, mas posso ajudá-los a agir de forma consciente na vida, valorizando-a e não apenas lamentando-a (algumas vezes por simples imitação).

Mariella Guerrini
Psicóloga Escolar
THEMAeducando

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