Recentemente temos dialogado no Thema sobre as relações entre o consumismo na infância, a importância do brincar e os papéis sociais e sexuais adultos. Sobre o assunto, postamos nas redes sociais da escola um artigo da Revista Gestão Escolar: “Consumir é viver?” (http://themaeducando.blogspot.com.br/2012/04/consumir-e-viver.html) e o vídeo “Criança, A alma do negócio” (http://www.youtube.com/watch?v=KQQrHH4RrNc) que está sendo discutido nos encontros semanais do corpo docente. Na última sexta-feira de Abril, eu e a Camila (coordenadora pedagógica do Ciclo 2) fomos a uma mesa redonda na Unicamp de lançamento do livro - fruto de tese de mestrado de Fernanda T. Roveri - intitulado “Barbie na educação de meninas: do rosa ao choque”. De fato, os dados apontados podem chocar. Retratarei superficialmente um pouco do que escutamos lá.
Barbie é a boneca mais vendida no mundo há 53 anos, pois seu marketing arquitetado milimetricamente a faz representar “TUDO O QUE VOCÊ QUER SER”. Apesar de se apresentar SEMPRE com o mesmo corpo: magra, de cintura fina e seios grandes, maquiada e de cabelos longos, a boneca assume DIVERSOS papéis: de fada à médica (quase nunca como mãe) com figurinos de moda bastante VARIADOS. Não constitui prioritariamente um brinquedo, mas uma mercadoria colecionável que cultiva o imaginário das pessoas: mulher sexy, sensível e delicada que não para em pé sozinha, cheia de objetos e roupas. Digo imaginário das ‘pessoas’ e não ‘meninas’, pois, aos homens, esta personagem parece uma modelo sexy; para as crianças alimenta sonhos de consumo, alegria e vaidade; e para nós – mulheres e mães - já serviu de “treino do mundo adulto” – um molde de projeção feminina. Até hoje, nosso lado infantil também se encanta, muitas vezes, com o universo dos shoppings e apetrechos de moda.
Enquanto os brinquedos destinados às meninas reforçam a sensibilidade, vaidade, consumismo e passividade dentre outros atributos, os dos meninos incentivam ação, movimentação (bonecos articulados em todos os pontos possíveis), luta, agressão e adrenalina (e depois, no ensino fundamental as escolas ainda esperarão alunos comportados e obedientes, que fiquem quietos sentados em sala de aula?). Muito há que se desvendar a respeito dos sentidos e significados dos brinquedos e brincadeiras atuais e da própria infância.
Até aqui apenas reproduzi um pouco do que ouvi. Depois desta mesa redonda fui buscar meus filhos na escola e voltamos para casa. Minha filha de pouco menos de 4 anos disse choramingando que eu não havia enviado o brinquedo do dia – respondi que ela levara sim, que eu havia lhe mostrado antes de guardá-lo na mochila. Ela reafirmou que não, pois ela e as amigas procuraram na sua mochila e não encontraram nem bola, nem bambolê. Eu retruquei que ela havia levado um elástico (uma das três opções solicitadas) e nem precisei procurar muito para encontrar – intacto - o tal “brinquedo” na mochila. Algumas perguntas vieram como uma avalanche na minha mente na mesma hora: “mas como não viram? como minha filha passou pela frustração – à toa – de ficar sem o brinquedo que estava lá com ela?”. Mas a autopercepção falou mais alto que a forte emoção protecionista de mãe e isso me permitiu tomar consciência de algumas coisas. Depois de tantas “discussões teóricas” sobre a importância da valorização e autonomia da criança, sobre brinquedos e brincadeiras, me deparei com a realidade de que, naquele dia, em primeiro lugar, eu não havia respeitado o potencial de minha filha: ao colocar o elástico na mochila ao invés de participar, eu tomei conta de um espaço que era dela: eu resolvi tudo sozinha e ela mal viu. Porém, na escola ela teve a oportunidade de procurar sozinha, de não achar, de pedir ajuda às amigas, de se frustrar, de brincar com as coisas dos colegas e de conversar comigo depois a respeito, me fazendo, não por acaso, refletir e criar uma oportunidade gostosíssima em casa: ao achar o “elástico intacto” imaginei que minha filha não o reconhecia como um instrumento do brincar, nunca havia, por exemplo, pulado elástico – uma das minhas brincadeiras preferidas na infância. Inspirada pela importância do brincar que eu redescobrira na mesma tarde convidei-a a armar o elástico em duas cadeiras na sala para pularmos. Qual não foi a surpresa (e risada) dela quando me viu arregaçando as calças (sim, as calças arrumadinhas de Barbie) para não enroscar nos fios. E qual não foi minha surpresa quando percebi que não me lembrava de nenhuma das regras da brincadeira. Depois de muita farra... ah!!!, que sorte que temos o ‘youtube’... Até minha filha que não sabia pular elástico soube escolher o vídeo que queria assistir para aprender a sequência da brincadeira do elástico...
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Mariella Guerrini
Psicóloga THEMAeducando
14/05/2012
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