quarta-feira, 11 de abril de 2012

“Não dê castigo ao filho, aplique sanção” - artigo de Rosely Sayão

"Ameaças não funcionam mesmo na educação dos filhos, garantem os pais. Muitos escrevem para contar que usam e abusam desta estratégia com o objetivo de fazer o filho obedecer, mas que é infrutífera. O curioso é que, mesmo vendo que ameaçar não resolve, eles continuam usando o recurso. Por quê? Uma mãe respondeu: “Não quero castigar meu filho, como meus pais fizeram comigo”. E aí está posta a questão: os pais ameaçam na esperança de que, assim, não precisarão usar o castigo. Bem contraditório, não é?

Vale a pena, então, conversar sobre castigo para tentar esclarecer esse conceito tão arraigado em nós e, quem sabe, substituí-lo por outro. Mas é bom adiantar que não é fácil para nós, que fomos educados nessa base, construir uma educação mais democrática, que, em vez de castigo, use o conceito de sanção.

Para começar, castigo é sempre uma punição. O filho não fez o que devia ou fez o que não devia? Castigo nele! Exemplo: o filho de uma jovem senhora passou a ter um aproveitamento baixo na escola. Ela não titubeou: tirou dele as horas de vídeo game, os encontros com os amigos e – pasmem! – o sorvete que ele costuma tomar sempre – e só – aos domingos! Vocês vão pensar que o exemplo é exagerado? Então faço uma provocação: vocês nunca deram castigos aos seus filhos que foram pura punição e que, na verdade, nada tinham a ver com o ato cometido por ele?

Tomar sorvete não atrapalha os estudos. Jogar vídeo game pode atrapalhar se, em vez de fazer a lição e estudar, o garoto – no caso com nove anos – só brincar. Mas, se for esse o caso, o que o filho precisa é saber quando e por quanto tempo pode se dedicar ao jogo e o mesmo em relação às tarefas escolares. E encontro com os amigos também não atrapalha o rendimento escolar de ninguém.

O que está por trás deste castigo dado ao garoto? Um julgamento: “Você não é um bom menino, por isso não merece ter aquilo de que tanto gosta”.

“Mas acontece que o castigo funciona”, dizem alguns pais. Sim, pode funcionar, mas apenar por um curto prazo de tempo. E a educação não deve ser apenas o corretivo de certos comportamentos do filho; deve, isso sim, preparar uma pessoa livre, autônoma, responsável e, portanto, com autodisciplina.

Para isso, a sanção cai bem, pois ela tem sempre como referência uma regra, um combinado, um limite. Os pais educam para que o filho aprenda que existem leis, regras e normas que precisam ser respeitadas. E, quando o filho não respeita um combinado, sofre uma sanção: arca com as consequências do que fez. A sanção é, portanto, aplicada a um comportamento, a um ato praticado, a uma escolha feita, e não à criança.

Pode não parecer, mas é grande a diferença. O castigo dá poder a quem o aplica. Poder de decidir o que a criança ou o jovem precisa fazer ou não pode fazer, poder de escolher a punição a ser aplicada. Já a sanção precisa da autoridade de quem a exerce: autoridade para aplicar a sanção previamente combinada, autoridade para garantir que a sanção seja justa e oportuna e que seja cumprida.

O que nem sempre é levado em consideração pelos pais é que muitos atos praticados pelos filhos já resultam em sanção. Não precisa de mais nada: apenas que os pais expliquem isso ao filho por meio de uma boa conversa. Um bom exemplo é o da criança que, sabendo usar bem um brinquedo que tem, usa-o mal e, por isso, o quebra. Só é preciso que o filho saiba que ficará sem o brinquedo pelo uso inadequado que fez, ou seja, por causa de um ato praticado por ele mesmo. Já está de bom tamanho essa sanção que, entretanto, perde o valor se não for simbolizada pela conversa dos pais com o filho."

Referência:
SAYÃO, Rosely. Como educar meu filho? Princípios e desafios da educação de crianças e adolescentes hoje. São Paulo: Publifolha, 2003.

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