“Do ponto de vista estritamente
pessoal, acho que as mamadeiras, quando administradas, nunca deveriam ser
utilizadas após os dois anos e meio, o que não quer dizer que devam ser dadas
até essa idade”.
“Acabamos por achar que a mamadeira é a maneira
mais fácil para administrar alimentos aos filhos. As mães acham que a mamadeira
se presta à administração de verdadeiros coquetéis, em que são misturados
leite, chocolate, farinhas, frutas, ovos, verduras, óleo de fígado de bacalhau
(...)”.
Como a criança de 1 a 5 anos tem necessidades
calóricas menores, come menos e tem um apetite caprichoso (de quem ainda
está descobrindo os alimentos e seus sabores), a mamadeira é a tábua de salvação – algumas crianças alimentam-se só
com mamadeiras, e algumas chegam a receber até cinco delas por noite e, pasmem,
as mães vão ao consultório queixando-se de que seus filhos têm falta de
apetite, por não comerem nada durante o dia (também pudera!).
“Por que a mamadeira é nociva depois de certa
idade? Por vários motivos. Seu efeito mais visível é sobre os dentes. Pelo
estrago produzido nos dentinhos, podemos identificar a maioria das crianças de
mais de 3 anos que toma mamadeira ao deitar, principalmente, quando ela contém
açúcar. Após certa idade, geralmente após trinta meses, a mamadeira é uma das
causas mais frequentes da tosse noturna crônica. A criança, a partir dessa
idade, começa apresentar dificuldade em deglutir na posição deitada e passa a
aspirar gotas de leite, que são responsáveis pela tosse, a qual, geralmente,
começa após a mamadeira. O leite ingerido na posição deitada fica estagnado no
cavo e vai atuar como uma substância irritante, causando aumento das adenoides e das amídalas, podendo ser uma das causas de amidalites e adenoidites de
repetição. O aumento das adenoides pode levar à obstrução das trompas e,
consequentemente, as otites recorrentes. As crianças mais velhinhas que tomam
mamadeira têm muito mais sinusites. A superproteção, com seu cortejo de efeitos
nocivos sobre a criança, é uma das maiores responsáveis pelo uso prolongado das
mamadeiras. Por isso, somos contra o uso imoderado e prolongado das
mamadeiras.”
“O ideal seria que uma criança mamasse no peito e, após os 6
meses, ingerisse alimentos semi-sólidos, utilizando-se da colher, e aprendesse
a tomar líquidos no copo, evitando-se o uso da mamadeira.”
LISBOA,
A. M. J. O seu filho no dia-a-dia: dicas de um pediatra experiente. Brasília:
Linha Gráfica, 1997. pp. 23-25.
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